Crônica - O Negro - Manoel Messias Pereira
O Negro
A raiz do negro é o fortalecimento cultural que alicerçou a sua existência, com resistência, na construção de uma vida, longe de sua mátria, distante de sua frátria, mas consciente de uma Pátria encontrada. E esse é o ser da diáspora africana, que trouxe o toque de tambor, o batuque e o batucajé, o omolocó, o tambor de minas, o Xângo do nordeste, e o candomblé.
Foi o ser negro que ensinou-nos, o vatapá, o cus-cus, a feijoada e o acarajé, que nos mostrou os seus deuses com todas as virtudes e os defeitos que o próprio ser humano, que possibilitou-nos entendermos a frase "não creia num deus que não dance", e assim construímos os nossos pontos aqui na terra firmado na pedra filosofal, sejas no mar, no ar, nas plantas assim como entendemos os nossos orixás. O nosso sincretismo nasce desta construção religiosa, fazendo cabeças, e assim nasceu a umbanda, como uma nação de paz e amor, um mundo de flor, a iluminar e humanizar todos os seus filhos. E é da umbanda que nasce a quimbanda com suas encruzilhadas, no respeito pela vida, pelas dores e pelo castigo da quizila, pelos mal atos praticados, pois quem planta o vento colhe a tempestade, pois não cairá uma folha da mangueira se não houver o designo de nosso pai Orixá-Alá.
É da cultura, banto, gegê, nagô, hottentotes yorubanos e islâmica, vimos a beleza de uma etnia em desfile pelas escolas de sambas, pelos terreiros, que nos deixam um legado cultural incrível, ao nosso olhar no nosso íntimo, ao nosso entendimento. É o único povo que luta, em passo de dança, como um balé de capoeira, que já inspiraram no Brasil, artistas como Baden Power, Vinícius de Morais e Camafeu de Oxóssi.
A flor desta cultura é a geração que precisa viver, que pra isto tem de respirar, e construir parâmetros de sociabilidade de vidas pra transformação deste PAÍS. essa é a geração que não pode apenas respirar o eurocentrismo histórico do currículo escolar, que não pode viver com o processo discriminatório, de uma sociedade que faz uma medicina negligente, pois não há coragem pra fazer um exame de anemia falciforme nos postos de saúde ou sejas pelo "sus" sistema único de saúde ou pela medicina privada, e é essa geração que não pode apenas ser o autores vítimas das batidas policiais inadequadas discriminatórias, pois o passado mostra-nos que nas academia de policia o ser negro era tido como bandido em potencial, obviamente graça ao fruto de uma política que passa pela mestiçagem, pela luso-tropicalidade, pela falsa democracia racial, tão descrita por Gilberto freire e tão desmascarada pelas obras de Florestan Fernandes.
Ser negro é ter da raiz a flor, uma identidade de amor pela natureza, de respeito ao outro, na construção deste país, como nação, a diáspora africana, no Brasil fincou raiz e hoje exige participação nas universidade, no mercado de trabalho, no respeito social, dai ser negro é ser essencialmente brasileiro, tido hoje como afrodescendentes, os guerreiros do Brasil, guerreiros da Paz e da harmonia.
Manoel Messias Pereira
poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São Jose do Rio Preto -SP. Brasil
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