Artigo - Racismo não - Manoel Messias Pereira


Queremos o fim do racismo
Amigos na vida é preciso envolver-se sempre numa luta se desejas por fim a uma concepção histórica, ideológica, de aspecto político-social. É preciso envolver-se.

Recordo em 1982, quando recebi um convite do Projeto Amndala, em que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, com outras instituições faziam coro para que Nelson Mandela, que estava preso na África do Sul, pudesse ser solto. Nesta época tínhamos em São José do Rio Preto -SP, o grupo de danças, teatro e expressão corporal Tie Terra, na qual criamos exatamente para atuarmos em eventos e estar difundindo a nossa cultura. E nesta oportunidade colhemos assinaturas para que Nelson Mandela recebesse o título de cidadão "honóris"causas no Brasil, como parte da pressão internacional, visando a sua soltura.

Confesso que em São José do Rio Preto-SP, muita gente no início dos anos 80, não conhecia Nelson Mandela, e quando ia colher assinatura muita gente dizia, mas quem é esse sujeito? E você tinha que narrar a história do Apartheid na África do Sul. E para muitas pessoas este era um fato que estava longe de tudo e dizia mas aqui nós não temos esse problema. Mas não era bem assim.

A questão racial não era algo exclusivo do povo sul africano, assim como entrei em contato com a embaixada da África do Sul na época no Brasil e solicitei material didático e histórico informando da disposição do grupo Tiê Terra de elencar no nosso espetáculo a cultura africana. E o material provindo na época contava de revistas mapas folhetos e livros na qual o governo do Apartheid estabelecia que na áfrica do Sul era o local em que o negro tinha a maior liberdade e respeitabilidade. Só que na propaganda da época tinham fotos das praias da África do Sul, mas lá não haviam negros. E entendiamos que era uma propaganda forçando a aceitar a situação dos negros que viviam o desenvolvimento em separado.

Mas aqui também, a violência do processo discriminatório também era imensa. Pois o negro brasileiro, é o ser humano que foi arrancado do continente africano e foi trazido para cá, em condições de desumanidade. Basta entender que num navio negreiro como conhecemos vinham todos amarrados, um do lado do outro, numa viagem em eles tomavam apenas água e era colocado um pouco de sal em sua boca pra aguentar a viagem. E por isto segundo um artigo que li, essa ação dos transportadores levou a população negra a passar a ter uma pressão arterial muito maior do que pessoas provindas de outros continentes. Essa é uma explicação que inclusive foi tema de reportagem jornalística aqui no Brasil. Mas a questão é que no Brasil tivemos a chamada discriminação racial disfarçada e precisamos foi fazer o despertar de uma consciência no Brasil sobre a questão.

Foi assim que em 1988 quando o Brasil completou os 100 anos da "Abolição da escravatura", tivemos uma sessão no Congresso Nacional em que isto foi debatido com intensidade por nossos congressistas. E a Campanha da fraternidade trouxe na oportunidade o tema "Ouvir o clamor deste povo", era a Igreja católica se redimindo de seu passado. E estabelecendo na ordem do dia uma politica de seriedade em relação a discriminação e ao preconceito vividos pelos negros no Brasil. E antes que este tema fosse conhecido lembramos que a cidade de são José do Rio Preto, teve acompanhando as discussão na CNBB, sendo que essa informação foi publicada no jornal Folha de Rio Preto, e foi escalada uma colega que na época era estudante de pedagogia e trabalhava numa loja de calçado em São José do Rio Preto e que casou o professor Moisés, que havia antes ordenado padre mas deixou o sacerdócio para casar-se.

Mas vale informar que naquela época em que Nelson Mandela estava preso e o bispo Desmon Tutu por sua luta recebia o Premio Nobel da Paz. E o Brasil iniciava a discussão sobre o racismo timidamente. E assim foi registrada na memória congressual a discriminação racial em São Paulo organizado pela Comissão para assuntos para a Mulher Negra, em que a maioria das fontes foram noticias veiculadas em jornais e haviam citações de jornais como o Estado de São Paulo em que Marilena Chauí encontrava "O negro , por definição e por natureza é marginal", à frase estava inscrita num mural da escola de Polícia da Universidade de São Paulo "Crioulo parado é suspeito, correndo é culpado".

E nesta época tivemos a policia de Porto Alegre no Rio Grande do Sul,  no dia 14 de maio de 1987 assassinando o jovem operário Julio Cesar. Preso porque suspeitavam dele , frente a um assalto feito num supermercado. Pois bem Julio Cesar era inocente, comprovado horas depois, e foi assassinado dentro da viatura. E os policiais ficaram solto mesmo cometendo um crime não foram punidos. Além do crime de rua há também a taxa do desemprego do IBGE e DIESE em que apontava na época entre 85 e 86, a mais alta taxa de desemprego e de subemprego.e apenas 46% da população negra  econômica ativa tinham Carteira de trabalho assinada. E isto mostrava que naquela oportunidade 70% das famílias recebiam de zero até 3 salários mínimos. E os dados diziam que 46% desta população era negra. Outro dado era sobre a mulher negra que além de ser discriminada e explorada no trabalho também era visto como símbolo sexual. Em um dado que na época era alarmante 36,7% das mulheres eram chefe de família. Como ocorreu na minha vida com minha mãe e minha avó. E o dado mais alarmante era que crianças negras de 5 a 14 anos, 73% era obrigado a trabalhar pra sobreviver. e com isto nas escolas tínhamos um grande quantidade de crianças abandonando a sala. Primeiro com uma escola que negava toda a su identidade cultural e depois a necessidade de sobrevivência social. Uma vez que não haviam programas sociais que possibilitasse o desenvolvimento pleno de nossa juventude.

O tempo mudou, tivemos uma intensificação de ações sociais no Brasil, os movimentos saíram do campo comum, ganhou sindicatos, frentes sindicais, observaram as diversas convenções internacionais assinadas pelo Brasil entre ela a convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho  - OIT,  pela qual fica proibido a discriminação racial no local de trabalho.

Para isto digo que é preciso envolver-se sim pra tentar rechaçar as concepções que cristaliza-se e muitas vezes a sociedade não entendem historiadores e sociólogos que trabalham essa questão embora há os que trabalham a questão de forma contrária. E necessitamos ter um arcabouço intelectual, pra contestar sempre. E vale informar que o apartheid como ficou conhecido o desenvolvimento em separado é fruto do neo-colonialismo na Azânia, África desde o século XVII, mas foi no pós segunda guerra em 1948 que consolidou-se, no mesmo ano em que criou-se Israel que mantem uma política de agressão até hoje sobre os povos palestinos.E por isto afirmamos que a questão na África do Sul era uma questão da humanidade do mundo, e  a questão palestina também, o mundo precisa definir a sua humanidade ou continuar na sua monstruosidade.
menino palestino
ação de Israel em 2014
E isto mídia brasileira não diz que é terrorismo.



 Na África do Sul em 1950 o racismo passou a ser constitucional. Com leis proibindo relações sexuais, casamentos inter-raciais, classificação desde o nascimento, terras, áreas residenciais, lazer, transporte, educação segregados. Passe para locomoção e remoção de negros forçadamente. e foi por isto que em 21 de março de 1960, os negros resolveram sair sem o passe e acabaram sendo assassinados em massa na cidade de Shaperville nas cercanias de Vereenicing, sul Transvaal, quando centenas de jovens negros saiam as ruas para protestar e o saldo foi 69 mortos 110 feridos a maioria de mulheres e crianças episódio que ficou conhecido como o Massacre de Shapeville.  E após  disto o CNA que esperava resolver tudo por via pacífica foi para a ilegalidade e em 5 de agosto de 1962 Nelson Mandela foi preso. E na Assembléia Geral da ONU de 26 de outubro de 1966  em homenagem aos tombados em Shapeville, foi instituído neste 21 de março o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial e em 1971 foi reconhecida como legitima a luta dos povos oprimidos da África do Sul.
Massacre de Shaperville
Shaperville


E no ano de 2015   data que marca  55 anos do Massacre de Shaperville, tivemos  no Museu Naiif Jose´Antonio da Silva em São José do Rio Preto-SP, graças Dr. Romildo Sant'Anna, lembrança dessa data com palestra e filme. E já estamos lançando oficialmente o Coletivo anti-racismo Minervino de Oliveira.

Assim como pra andar necessitamos de dar passos e subir escadas entender que temos de articular degraus damos os primeiros passos pra discutir com a nossa coletividade social e iniciar um interferência deste mal que necessita ser extirpado,que é  o racismo com seus sintomas  como a discriminação e o preconceito. Sem isto temos dificuldade de caminhar para a ideia de sermos plenamente felizes.


Manoel Messias Pereira

professor de história e poeta
São José do Rio Preto -SP. Brasil.

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