Crônica - Olhar no Espelho - Manoel Messias Pereira


Olhar no Espelho

O que há de tão mágico no espelho, do que há enigmático, que em várias obras de artes falam do reflexo do espelho. E assim que no meu tempo de criança ouvia a história da Branca de Neve, que crescia cada vez mais linda e sempre perguntava ao espelho mágico, "Espelho, espelho meu será que há garota mais linda do que eu" E o espelho mágico respondia que não. e nesta mesma toada a madrasta rainha que era muito vaidosa fazia as mesmas perguntas ao espelho e este não lhe dava a resposta positiva, pois dizia que a mais bela era a Branca de Neve. A procura de ambas eram pela informação sobre suas belezas.

Num outro momento vejo a escritora Cecilia Meireles, escrevendo sobre o poema "eu não tinha esse rosto", na qual ela disse no poema "Eu não tinha esse rosto de hoje, calmo, tão triste, assim magro, nem esses olhos tão vazios, nem os lábios amargos, eu não tinha essas mão sem forças, tão paradas frias, e mortas, eu não tinha este coração que não se mostra. eu não dei por essas mudanças, tão simples, tão certa, tão fácil e se pergunta. em que espelho ficou a minha face?

Observando esses dois fragmentos literários vemos que parece esgotar o sentido de espelho como diria Pierre Macharrey e nele se encontra os reflexos que tomam formas sobre o fundo de uma superfície cega como as cores aderem a superfície de uma tela. Mas parece que nos dois fragmentos a procura era de uma possível beleza e no caso do poema de Cecília Meireles, ela perde a beleza para o tempo de maneira implacável, que ela agora pergunta-se do seu rosto e em que espelho que ele se perdeu.

Vladimir Ilitch Ulianov o Lênin revolucionário bolchevique ensinou que não é tão simples olhar o espelho, e sobre isto ele decidiu e solicita a todos que observa-se rigorosamente. E nesta busca de uma rigorosidade nós até podemos ver assim como Cecilia Meireles viu a mudança de seu rosto. E pra entender e discutir sobre o papel da mudança é preciso entender o papel da escritora e a mensagem explicita na sua obra.

A escritora é uma artista das palavras das letras, portanto é uma criatura  criadora e seguindo o aspecto crítico, estamos colocando-a na dependência duma ideologia humanística, antropocêntrica. Libertando-a da dependência de uma ordem externa e entregando para essa ideologia e nos seus pretensos poderes. E apenas submetidas a essa torna-se criadora de suas própria leis, que é das artes, como um Raul Seixas que chegou a anunciar uma  "Sociedade Alternativa", ou o próprio John Lennon quando escreve e canta "Image". Ou seja são pessoas humanas, não individuais, mas que pensam criam eles e por outros seres humanos  através de uma aprofundamento  contínuo.

O oposto do ser criador é o ser alienado. e o alienado é aquele que faz a mesma pergunta para o espelho, como se tudo fosse um jogo "espelho espelho meu quem está a ser enganado mais do que eu, e ele próprio não reflete no espelho e não vê a resposta. Esse alienado vai se refletir mais realista do que nunca e vai rir de sua própria desgraça como os antigos humoristas da TV, que não são tão antigos, mas é que no momento há um desgastes da graça e confesso que está difícil esboçar um sorriso. Ou seja o humor está sem graça. é como o escrito do filósofo iluminista Diderot, que fala num de seus escritos de "Mademoiselle de Salignac que se divertia diante de um espelho ao i se imitar todas as atitudes de uma mulher fútil que se preparava para a futilidade, e ria dela própria. Quando isto é realismo e sobre o riso é melhor fechar os olhos.

O que não podemos fechar os olhos é para as mudanças, e só se muda quando se cria. Criar na continuidade, na atualização, no efetuar o algo novo. e nisto não há um Deus-Homem, apenas um Homem -Deus de si próprio, repetindo incessantemente a sua eternidade e o destino que já não traz em si. Enquanto que o alienado é quem tentar tornar -se o outro. O criador ou a criadora torna a si próprio, ou seja o ser da criação.

O alienado não é um ser humano sem o ser humano, o humano sem a humanidade, que reivindica o deus criador e esse Deus que é para o ser humano o ser humano. E a questão se torna tensa e entra numa contradição impossível de resolver. Pois como pode o ser humano modificar-se sem se tornar diferente? Seria preciso protegê-lo permitindo continuar a ser o que é proibindo qualquer modificação real do seu estatuto de ser humano.

E nisso há o Movimento, que é a mudança da material, não apenas apenas intercâmbio quantitativo de energia entre os corpos, não é um simples crescimento mas um processo de transformação quantitativa da matéria e do seu desenvolvimento e de aparecimento de novos fenômenos. a lei filosófica das possíveis mudanças quantitativa e qualitativas e mostra como decorre processo de renovação de mundo material. dos saltos, do fim da qual o que é caduco dá lugar ao surgimento do novo. e nisto avança na direção determinada . do contrário move-se  num circulo repetindo eternamente o mesmo caminho.

E nisto há quem procura olhar-se no espelho, e tentar buscar a sua própria beleza, como aliás fazia no conto Infantil a Branca de neve ou a Madrasta Malvada.Ou mais real a obra poética de cecília Meireles que com o tempo perdeu nos espelhos da vida até a própria imagem de seu rosto. Mas como disse Lênin, não é tão simples olhar no espelho e decide observar tudo rigorosamente. Na natureza orgânica, a transformação das mudanças quantitativas ou qualitativas podemos observar como a evolução das borboletas que tens estágios de larvas, crisálidas e finalmente  de borboletas. a passagem de um estágio para o outro depende dos processos qualitativos no organismo estudado.

Na sociedade porém  a relação entra a mudança qualitativa e quantitativa é evidente na cooperação do trabalho. O agrupamento de trabalhadores de uma coletividade produz um efeito muito superior á soma aritmética das forças e capacidade individual. Outro exemplo são as revoluções sociais, cuja as premissas são os amadurecimentos no seio da mesma sociedade. As mudança atendem um limites e isto parece influir na qualidade do objeto, mas isto é só de certo limite. Basta ultrapassar para que essas imperceptíveis mudanças quantitativas se transformam em mudanças qualitativas para se produzir o salto que a humanidade precisa.


Manoel Messias Pereira

professor, cronista, poeta
membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
membro da Associação Rio-pretense de escritores -ARPE
São José do Rio Preto-SP. Brasil



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