Crônica - Memória de Minha Infância - Manoel Messias Pereira
Memória de minha infância
Em diversas oportunidades já contei como era lindo o meu caminhar em busca da escola. Os caminhos já são por muitos conhecidos, pois sempre foco naquela estrada de terra, em que saia do meu bairro, passava por um pequeno riacho, observava as flores amarela que compunha o cenário de beleza. E seguia até uma pequena igrejinha onde depositavam santos quebrados, velas acessas e lá havia um cruzeiro. Esse caminho já foi contado por mim em inúmeras ocasiões, pois são imagens que guardo como lembranças de uma infância. E não perco fora de minhas raízes, de menino do interior, caipira, que levantava as 6 da manhã, pegava a lenha para fazer o café, ouvia no radio os programas sertanejos, aprontava e ia para a jornada de estudos.
A minha escola ficava a uns dois kilómetros de casa, pela estrada encontrava, cobras cegas correndo, lagarto, coelho, prea, porquinho da índia, observava uma porção de plantas que ainda hoje conheço-as pelo nome popular, como saco de carneiro ou saco saco, planta que minha mãe gostava de pegar para fazer defumação e banhar-se em casa, havia o galinho que algumas pessoas mais velha chamava de buta , diziam que servia para curar feridas, o que eles chamavam talvez nome popular de enzipela,
gostava era do formato da folha que parecia um galo. era uma planta amarga, mais a mais amarga de todas era a quina, que as pessoas mais velhas dizia que era remédio, alguns dizia que servia para dor de estomago ou coisa assim, havia no mato um buchinha pequena, que parecia essa de tomar banho as mulheres diziam para ter cuidado, pois as moças quando ficavam grávidas e não queriam tomava aquela planta e abortava, uma história que eles contavam mas que nunca vi era que a cobra alimentava-se do sapo e brigava com o lagarto teu ou como popularmente eles diziam o tiu. E por isto nós não podíamos comer carne destes bichos silvestres.
Mas alumas vezes comíamos, lagarto teú sim, porquinho da índia, . .. vix, prea nossa tínhamos um cachorro muito melhor do que o Rin Tin Tin que passava na TV, um bom caçador. E que chamava LULU, assim como alimentávamos de muitas frutas silvestres como o marmelo, azedinha, pitanga, marolo, articum também conhecido como marolo de macaco e que dava uma prisão de ventre que era uma loucura. Mas a fruta era uma delicia. Quando não chupávamos aquelas laranjas azedas da beira da estrada, melancia. Bem todo o caminhar para ir ao local de estudos ou caminhar pelos matos era sim aventura.
O importante também era a amizade dos colegas da época. Ninguém era mais esperto do que o outro, ninguém tinha este ou aquele celular pois em casa nem telefone tínhamos. O meio de comunicação inicial era um radio de pilha. E para ter bons conhecimentos íamos na Igreja São Judas Tadeu, que implementou uma campanha chamada "Campanha Tudo Serve," e para lá era enviados revistas livros, e assim fomos formando-nos e aprendendo a leitura clássica.
A chegada a escola, era interessante ficávamos esperando o portão abrir, e depois esperávamos no pátio, conversava sobre o que cada um tinha feito, por onde tinham passado, havia os amigos que andavam juntos aqueles que andavam separados, a minha primeira chegada a escola foi de muito medo, dizia que para aprender eu devia passar por uma sessão de sofrimento. Que nada tirei de letra, aprender é muito mais fácil do que imagina-se, basta lembrar que você vive é o seu aprendizado. Na primeira vez que contestei um professor por não concordar com a história do Brasil que ele estava ensinando, falei instrumentalizado por um livro do curso superior que havia ganhado de um sapateiro que chamava-se Sr. Arruda. E que era um homem simples mais culto. Outro coisa que na escola observaram-me era a minha fragilidade em relação ao ter bens materiais, lembro-me que no terceiro ano uma inspetora de aluno de nome Durvalina arrumou-me um agasalho, logo a seguir uma professora fez-me um agasalho de tricô da cor verde e preto e ofereceu-me, passei o meu agasalho anterior para a minha irmã. Lembro-me que havia um senhor chamado Marcio, que era da Maçonaria, e que tinha um bazar eu fui perguntar o que era maçonaria. E ele sabendo das minhas dificuldades financeiras devido a fragilidade econômica da minha família entregou-nos três cobertores. Assim como alguns colegas que tinham uma situação bem melhor do que a minha vieram com suas famílias em nosso socorro.
E na escola participávamos de tudo festa do dia do trabalho, de Tiradentes, ou seja festa cívica lá estávamos nós, cantando o Hino Nacional, entendendo todas as regras de hasteamento da bandeira, e depois das cerimônias comentando os desrespeito da maioria dos brasileiros que não se portava no devido cumprimento das leis, e no respeito aos símbolos nacionais. Sabíamos que a Escola, passava por um momento tão delicado como o momento atual. Havia um ufanismo envolto a todas as manifestações, mas sabíamos que era um momento de extrema dificuldades em tecer comentários que pudessem expor nossas famílias. Pois nem todo mundo concordavam com o período de ditadura civil e militar que se implantou no País.
Antes de entrar para a aula, discutíamos as manchetes de jornais, e eu e meus amigos gostava mesmo era do jornal mais sangrento, aquele que trazia, o bandido da luz vermelha, o Chico picadinho. Ah eram uns crimes bem românticos, e bem diferente dos horrores dos dias de hoje.E como era abordados pelos jornalistas nossa era muito engraçado, muito sensacional. Bem naquele tempo acreditamos que havia bandido travestido de autoridade, pois o sistema é o mesmo. Mas hoje é difícil saber aonde esta a lei, servindo pra proteger os cidadãos ou alicerçando a quadrilha de governa o País. Credo hoje é senador delatado, é deputado delatado, e presidente delatado, nossa é uma porcaria. Tem gente que fala está uma bosta, mas a serviço de todos antes ninguém sabia.
As aulas eram de respeito, de bom grado, aprendíamos desde a leitura, a aritmética, os conceitos históricos e geográficos e até que um dia tiraram a História e substituíram por OSPB, EMC, e eu não quis nem saber tinha um monte de livro que havia conseguido na igreja no lixo, achei livro até dentro do rio e li a vontade. Mas a escola foi legal, juntamente com o companheiro Jose Augusto Hidalgo plantamos uma árvore na Escola. Essa arvore foi cortada quando da construção da diretoria de ensino de São José do Rio Preto -SP, outros amigos que lembro foi do Murilo, que nunca mais vi, mas ele emprestou-me uma camisa branca pra ir a escola e agradeço-o imensamente, o Zé Capeta, ou Zé Luiz filho do pintor Israel e irmão do Paulo chupeta, sumiram também aqueles moleques, é que as vezes ia almoçar na casa dele. Como ele ficava só tirávamos do forninho o arroz o feijão e um ovo frito, ou pedaço de linguiça, ou batatinha frita e comíamos como se fossem o bispo. Uma vez que dizem que todo bispo comem muito bem, pelo menos diziam, não sei hoje com a crise eles devem estar se cutucando.
A volta da escola sempre era outra aventura, era o Vicentão, irmão do Odair, somos amigos até hoje, ele vendendo sorvete próximo da escola, o fiscal da prefeitura enchendo o saco pra ele não vender e nós moleques num bando de quase cem moleques xingando o fiscal, e falando se ele não fosse embora nós íamos atacar. O fiscal geralmente ia embora e nós gritávamos felizes, mas essa é um outra história. Outro dia eu conto.
Manoel Messias Pereira
cronista
membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
Membro da Associação Rio-pretense de escritores -ARPE
Membro da Associação Rio-pretense de escritores -ARPE
São José do Rio Preto-SP.
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