História - A história de Madá - Manoel Messias Pereira



A história de Madá
Hoje estamos lembrando desta figura linda, deste símbolo de resistência, deste ser humano maravilhoso, feminina, talentosa artista plástica, professora e grande revolucionária do Brasil, que é Maria Madalena Prata Soares a Madá. Ela que em 22 de outubro de 1973, juntamente com o seu filho de apenas 4(quatro) anos acabou detida pelo CODI/DOI São Paulo, ela que fora casada com o revolucionário José Carlos Novais da Mata Machado, estudante de direito, membro da União Nacional dos Estudantes - UNE, ex-dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) .
Jose Carlos Novaes da Mata Machado

Maria Madalena Prata da Mata Machado, passou vinte e três anos, tentando provar que José Carlos Carlos Novaes da Mata Machado, o seu esposo foi morto em dependências militares após tortura e que jamais traiu os seus companheiros durante interrogatórios, segundo a versão oficial do Exército brasileiro.
No ano de 1996 conforme publicação no Jornal do Comercio datada de 11 de fevereiro na página 8 do caderno de política, consta que a União reabilita a imagem da ex-militante, pois acabara a luta para provar a lisura do grande Jose Carlos Novaes da Mata Machado. E foi reconhecido como morto no DOI/CODI no Recife em 1973, e isto é muito difícil para qualquer ser humano ter um filho um parente desaparecido mas não ter um atestado de óbito e ter que dar explicações quase inexplicável sempre sobre o passado tumultuoso do período de chumbo no Brasil. Para ela foi o alívio, pois acabou aquele velório interminável de soluços e dores que atravessaram noites e dias obscuros e turvos.
Madá – como era chamada por Mata Machado – ou Maria Eliza­beth de Paiva, a Betty – como era conhecida na APML quando na clandestinidade entre 1970 e 73 –, é uma das viúvas de militantes que foram presos entre 1964 e 79 que ainda são dados como desa­parecidos ou já considerados ofi­cialmente mortos pela União. “Sou viúva, não terei mais de explicar minha vida para pessoas estranhas e desconhecidas todas as vezes que tinha de assinar um mero documento”, desabafa.
O camarada Jose Carlos Novaes da Mata Machado foi incluído na lista oficial de 136 mortos reconhecidos pela Comis­são Especial do Ministério da Justiça, após depoimentos toma­dos no Recife pelo Grupo Tortura Nunca Mais, que comprovaram que o ex-militante foi torturado e morto em dependência militar. A versão oficial do Exército dizia que Mata Machado tinha sido morto aos 27 anos durante tiro­teio por “companheiros” nas ruas do Recife, após ter “confessado em interrogatório” no Doi-Codi sua participação na APML.
A Comissão Especial é res­ponsável pela análise de dezenas de processos semelhantes para a posterior concessão de indeniza­ção – que deve chegar em média a R$ 100 mil – e a liberação de certidão de óbito pelos cartórios estaduais. Os atestados servem para as famílias solucionar problemas ainda pendentes, como a realização de inventários ou a simples prova de viuvez.
LEMBRANÇAS – A primeira reação de Madalena após o reconhecimento oficial da morte de seu marido, Mata Machado, foi a de reunir todas as suas coisas, acu­muladas em mais de duas déca­das, e guardá-las em uma caixa. “Hoje, tenho uma sensação de leveza, de quem encerrou uma história. De ter agora espaço para pensar em outra coisa. Mesmo morto, ele ocupou um espaço muito grande na minha vida”, revelou.
A caixa foi para o único filho que teve com Mata Machado, Dorival, hoje com aproximadamente 47 anos e viveu com a avó paterna em Belo Horizonte (MG). Dorival nasceu em Goiânia (GO) em 1972, em plena época da repres­são, quando a mãe tentava fugir da polícia, e chegou a viver com o pai somente nos primeiros nove meses de vida, quando o casal foi morar numa favela em Fortaleza (CE). A clandestinidade fez com que Dorival só fosse registrado aos 2 anos e, mesmo assim, pelo avô, o ex-senador Edgar Godói da Mata Machado.
Madalena já sabe como aplicar a indenização que receberá da União. “Nunca pedimos nada, mas se vão dar, o dinheiro vai todo para meu filho menor, para que tenha um patrimônio. Eu vou continuar a trabalhar”, diz. Ela conta que Dorival abriu mão de sua parte, já que tem direito à herança do avô. E ela queria apenas o suficiente para resolver um pro­blema de arcada dentária, uma sequela de anos de tensão.
ÚNICO SONHO – “A angústia era tão grande que acabei trancando o maxilar de tanto cerrar os dentes com força”, justifica. Madalena tem um filho do primeiro casamento, Eduardo, e outro, Lucas, 10 anos, de uma terceira ligação recentemente interrompida. “Sempre achei que meus filhos teriam um pai que me ajudasse a criá-los. Isso nunca foi possível”, lamenta.
Sobre Mata Machado, tem apenas elogios. “Era louca pelo José Carlos, que era meigo, carinhoso, lindo e gostoso. Fui arriada por ele”, confessa. Ela conta que essa relação prosseguiu após a morte de José Carlos e atrapa­lhou sua única relação amorosa nos últimos 15 anos. “Ele sabia que, mais do que a ele, amei alguém que já não existe mais”. E releva que resta apenas uma mágoa. “Não perdoo por terem matado um jovem e terem tirado o amor de minha vida. Queria ter namorado um pouco mais. A gente é que deveria ter decidido quando parar”, diz. E isto com certeza é um sonho de amor que foi interrompido.
Madalena teve um único desejo. “Uma grande faixa na rua dizendo: José Carlos não foi traidor”. Para ela a vida não foi um poema de amor, mas foi uma crônica numa linguagem que convém a criação inteira, necessitamos refletir. A morte pra de Jose Carlos foi o poema inacabado, e quando isto ocorre não adianta uma palavra, uma virgula fica a dor que eterniza e cristaliza em si.
Maria Madalena desde 2010 em razão de uma queda fraturou uma vértebra da Coluna e precisou da solidariedade dos amigos. Camarada sempre camarada.
A história de Maria Madalena Prata Soares a Madá, é uma parte da história do Brasil, que temos que refletir num contexto da travessia de sonhos que passamos a conhecer graças aos aspectos da memória que ficou ocultada e revelada a partir do direito Universal de cada povo de lutar pela ideia de ser felizes.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta e professor
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
Membro da Associação Rio-pretense de Escritores - ARPE
São José do Rio Preto-SP.


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