Crônica - As Cartas de Luis Carlos Prestes - Manoel Messias Pereira
As Cartas de Luis Carlos Prestes
No
passado não muito recente as cartas era uma das formas de comunicações
mais usadas, elas eram escritas tinha um tempo de postagem, e um tempo
para chegar ao destino. E nisto residia a expectativa da ida das
mensagens e da chegadas das mensagens. Quantas vezes escrevíamos usando
verbos, expressões, sinônimos das palavras quando não situações do
momento e até mesmo uma carta temática e esperávamos com ansiedade a
resposta provinda do receptador. Outras formas mais rápidas usava-se o
telégrafo nos correios. O telégrafos era feito no código morse. Que
embora eu assisti eu tenho a plena convicção de que não sei nada a
respeito e não aprendi nada na escola sobre isto.
As
cartas bem escritas tinha a intenção de encantar, de propagar sonhos,
esperanças, e nela falava-se de tudo, desde os aspectos sociais
políticos, religiosos, mensagens idiotas, aos desejos de amizades e
amores. Mas eu gostava de trocar cartas para crescer-me enquanto alguém
que sabia comunicar-se bem, além de trocar cartões postais. E cheguei a
ter uma coleção de quase quinhentos cartões postais, que mais tarde fiz
uma doação para a Casa de Cultura de São José do Rio Preto-SP., que era
dirigida pela Professora e escritora Dinorath do Valle. que inclusive
fez uma exposição de cartões postais naquela instituição cultural.
Essa
admiração pelas cartas fez eu observar algumas publicações de cartas
pessoais de personalidades e aquela que chamou-me a atenção foram as
cartas do Cavaleiro da Esperança, Luis Carlos Prestes, que inclusive foi
feito um livro com três volumes destas cartas. A organização deste
livro coube à Anita Leocárdia Prestes e Ligia Prestes e saiu publicada
pela editora Paz e Terra, num chamado de anos tormentosos de Luis Carlos
Prestes.
E
num final de ano, numa correspondência datada de 29 de dezembro de
1939, ele escreve a Olga. "Minha querida Olga. Respondo hoje tuas boas
cartas de 14 e 26 de outubro, esperando assim inaugurar a nova via aérea
italiana. Que posso dizer-te sobre a alegria que me causaram as tuas
cartas? As noticias de nossa pequena Anita quando recebida por teu
intermédio, me trazem maior satisfação. É isto que sempre penso quando
leio as cartas da nossa querida mãe: a Olga já saberá disso? Imagino
também que agora já estejas melhor informada a respeito da nossa pequena
Anita.", este é um trecho imensamente significativo, para que possamos
entrar um pouco no universo desta intimidade histórica. E num outro
trecho desta mesma carta ele disse "Estou magro mas nem tanto.
Desconheço o meu peso atual, mas mais tarde te mandarei informar. Por
que tu não me informa teu peso? E no parágrafo seguinte ele ainda
escreve "Devo dizer-te ainda que recentemente recebi a linda gravata
de tricô. Quando poderei usá-la? E agora uma "molecagem". Estou-me rindo
da tua cautela quando falas a respeito dos últimos acontecimentos:
"Estou quase certa de que nossas opiniões coincidem sempre." Quase?
Poderia dizer que tenho certeza... Mas tu tens razão. O nosso sol
brasileiro aquece não só o coração, mas também a cabeça, e isso não é
bom. Não é verdade? Agora já estamos no fim do ano e tenho a certeza de
que, mesmo levando em conta as distâncias que existe entre nós, neste
momento os nossos pensamentos e as "saudades" estão unidos. Com carinho
beija-te com todo o amor o teu Carlos. (Os originais desta
correspondência foram feitos em alemão).
Luis
Carlos Prestes membro da Internacional Comunista, encontra Olga na URSS
que também pertenciam a Internacional. E numa missão comunista vem ao
Brasil após um relatório dos camaradas brasileiros enviado por Miranda
que num erro estratégico dizia que o Brasil estria preparado para um
processo revolucionário mas no entanto não estavam. E Olga Benário
Prestes, foi uma mulher muito jovem e que teve apenas dois namorados em
sua vida o primeiro foi Otto Braun que ela consegue libertá-lo da prisão
de Moabit, e que era muito mais velho do que ela, mas que termina o
namoro pois ele declara que já era casado. Já com Luis Carlos Prestes
ela vem numa missão revolucionaria atendo Comitê da Internacional, e ao
longo da viagem como todos nós já sabemos pelo filme produzido e lançado
apaixonam-se. E a uma frase que ela disse "cumpri uma tarefa do partido
e outra de meu coração", e assim em abril de 1933 chegam ao Brasil.
Viveram meses na clandestinidade, e numa luta antifascista, teve Prestes
aclamados pela Aliança Nacional Libertadora -ANL e conseguiram iniciar
uma insurreição militar no quartel da cidade de Natal Rio Grande do
Norte. E quando Luis Carlos Prestes ordena a insurreição no resto do
país, vai notar que o relatório do camarada Miranda não estava com a
veracidade que ele acreditava. Em março de 1936 foram capturados e Olga
gravida foi entre ao governo brasileiro a policia nazista de Hitler. E
que segundo as informações jurídicas da época não se poderia ter
ocorrido isto. Mas a questão era que Olga Benário era judia e em outras
palavras tínhamos um presidente no Brasil como Getúlio Vargas de
tendência fascista, e ele vai entregá-la e ela acaba sendo executada em
Bernburg segundo as várias fontes históricas numa câmera de gáz, em 23
de abril de 1942, no dia de São Jorge. Embora haja informações que
ainda não consegui confirmar que ela tenha morrido a machadada.
Voltando
as cartas observamos o carinho com que ele tratava a amada, lá na
Alemanha. E o carinho com que ele fala da filha chamando-a de nossa
pequena Anita. Mas mesmo distante ambos presos ele fala de sua aparência
e procura saber como ela está. E fica feliz com a gravata. Era com
certeza um ser humano extremamente sensível. E numa outra carta de 26
de janeiro de 1942, ele escreve para a Olga dando um sinal de vida e
respondendo a carta de 5 de novembro, que o fez feliz e deixou com o
coração aliviado e aproveita cumprimenta-a pelo dia 12 de fevereiro data
de nascimento de Olga. Mas a carta que me chama a atenção é de Sobral
Pinto, enviado a Luis Carlos Prestes, carta essa datada de 24/12/1943,
na qual o jurista cumprimenta-o desejando os votos de feliz Natal, e
solidariedade com o sofrimento de Prestes e juntos os confeitos de
chocolate que são os doces de sua preferência. E nesta carta consta o
seguinte trecho "Nesta data, que enche de júbilo agradecido a alma de
milhões de cristãos, o meu pensamento se volta, cheio de compreensão
caridosa, para todos os que se veem impedidos de compartilhar com os
entes que lhes são caros de alegria geral que inunda o espírito
religioso das comunidades cristãs". ...E encerra a carta assim "Como
expressão de minha amizade cristã, estas palavras que brotam,
espontâneas, da minha alma religiosa, envio -lhe, tomado de respeito, o
meu cordial aperto de mão.
As
cartas sempre trazia na formalidade da existência o sentimento afetivo
de mais nobre firmeza de caráter e respeito. E essas cartas de final de
ano são os exemplos disto que estou afirmando. E as cartas encantavam
além do mais era um meio eficaz de comunicação. Atos de compartilhamento
entre pessoas que até pensam diferentes mas sabiam se portar diante de
todas as diversidades.
Muitas
de minhas amizades surgiram das cartas do sonho da comunicação pessoal
com a intenção de refletir sobre os mais diferente eventos, sobre os
mais diversificados momentos e usando a expressão da rainha Nzinga ao
governador de Angola Luís Martins de Souza, quando ela diz que escreve
como filha escreve a um pai, e nisto reside a ideia de parentes
espirituais e assim ela usa desta afinidade.
Ou
seja podemos ser diferentes mas somos espiritualmente irmão, camaradas.
Podemos viajar por ambientes diferentes, ver paisagens diferentes
pintar como um artista crianças e trabalhadores, sentir -se Portinari,
que traduziu as dores, as esperanças de nosso povo na sua arte. Escrever
carta também é uma arte e comentar a carta do Cavaleiro da Esperança,
como ouvir o canto de Taiguara quando ele no seu cantar disse " O
cavaleiro da Esperança faz a hora acontecer, faz o punho armado, faz a
pujança, Mas combate pela Paz/ Pro povo não morrer e Ogum Guerreiro não
morre/prestes a encontrar, uma estrela d'alva pra nos guiar. Mas Olga
Benário talvez seja essa estrela pois morre no dia de Ogun, e antes
disto Luis Carlos Prestes na sua última carta fala a ela que deu um
sinal de vida e ficou aliviado em saber que com aqueles lindos olhos
dela leu suas últimas palavras escrita em cartas.
Manoel Messias Pereira
professor, poeta e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.
Manoel Messias Pereira
professor, poeta e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.
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