Crônica - Filosofia no contraponto ao Capital - Manoel Messias Pereira



Filosofia no contraponto ao Capital

Devemos sempre refletir sobre todos os eventos, e todas as formas objetivas e subjetivas que movem a humanidade assim como a sociedade na qual residimos, vivemos e compartilhamos de seus malefícios e benefícios entendendo que o mundo que pensamos em nossas reflexões não é aquele que está posto pronto e acabado. As minhas reflexões parte de um pressuposto olhar da necessidade humana, na abrangência do pensar coletivo, o que vai em desencontro com a sociedade capitalista, alicerçada no processo da exploração de um ser humano sobre o outro, na busca do lucro exagerado por uma classe social que geralmente pagam baixos salários a maioria da população e enriquece-se dizendo ser um bom gestor de negócios. 

Diante disto temos aí neste caso duas classes distintas a dos patrões e a dos empregados. E se levarmos em conta que a grande massa dos empregados ganham um salário irrisório no Brasil, tem um seguro social que não atendem os seus anseios, diríamos que em tempo de crise esses funcionários vivem uma maior dificuldade financeira do que a classe patronal, que é quem produz a crise e sobrevive dela ou se vira nela.

Portanto vivemos sim uma luta de classe bem declarada. E o que sabemos  é que essas lutas são as forças que impulsionam e apresentam-se como o motor da história. e recordo-me que li num livro as palavras do escritor Dinarco Reis que dizia que as classes sociais surgem de acordo com os condicionamentos políticos, que se refletem nos aspectos subjetivos e que devam igualmente ser levadas em conta pela força nela empenhada.

Sabemos que vivemos num país nitidamente capitalista e que nunca teve outra experiência em sua historiografia que não fosse o sistema politico e econômico, do chamado capitalismo. E diante deste exposto, vivemos uma miséria absoluta em relação aos bens materiais aos capitais que continuam concentrados nas mãos de uma minoria, e temos uma grande maioria que tens fragilidades econômicas assim como temos os serviços de saúde, educação público sucateados e com uma política apenas voltadas para o atendimento desta maioria que tens o capital concentrados. E portanto é comum ter reclamações nos postos de saúde por mal atendimentos, ter reclamações de profissionais da educação sobre as dificuldades do avanço no ensino, com uma escola toda viciada para o sucateamento exatamente porque é uma forma de proporcioná-la ao mercado de princípio usando a forma da tercerização e mais tarde a privatização de prédios, sistemas, e nisto a ideia reguladora do mercado, do pensar neoliberal.

Porém quando Karl Marx analisa o sistema capitalista, ele chega a conclusão que é preciso entender as necessidades da população e sugere o Socialismo Científico, posto na crítica ao capitalismo que garante uma vida estável para a classe burguesa mas não responde aos anseios da classe trabalhadora, assim como utiliza as ideias provindas das experiências socializantes que ocorreram na França com os jacobinos e mais tarde com a sociedade da Conspiração dos Iguais, e da experiência da Comuna de Paris. E nisto surge o socialismo e a ideia mais tarde do processo comunista.

O que é importante lembrar é que independente do modelo histórico sócio-político que vivemos temos a possibilidade de pensar, de refletir, a partir de uma lógica a necessidade emergente e ao longo prazo que uma sociedade que deseja ser fraterna, libertária e igualitária do ponto de vista social temos que ter essa liberdade de pensar e expressar. E vemos que a ideia do socialismo foi pensada muito antes de Cristo vir ao mundo mas no mundo grego, embora as condições deste pensar nada tinha com o que temos hoje pois o cenário era praticamente adverso a este pensar. Quando lemos a República de Platão (428 a 348a.C)vimos uma classificação de três classes distintas, a dos filósofos, que ele diziam ser os únicos capazes de governar, a dos guerreiros que ele dizia serem responsáveis pela defesa social e por fim os operários encarregados da subsistência material, além do mais nesta obra consta que as condições na terra estabeleceria o perfeito domínio do bem, com ordem e justiça esse sistema que chamaria de comunismo racional, embora não se baseava na igualdade dos cidadãos mas nas diversas qualidades de cada um.

O filósofo grego Heráclito de Éfeso, que era um soberbo aristocrata, acreditava que a estrutura do universo se compunha de elementos propostos por seus antecessores (água, ar, terra), e acrescentou o elemento fogo como princípio fundamental, por acreditar que dele surgia, por transformação, o ar, deste, a água, e da água, a terra. E assim acreditava ele que o universo estava  em permanente estado de nascimento e destruição. E tinha uma frase que era assim tudo flui tudo muda, o chamado panta rhei, dizia ele que o mundo compõe-se de forças contrárias que travam lutas (pólemos), sem descanso e cada contrário se converte em seu oposto "O frio se aquece; e o que quente esfria". E na doutrina  heraclítea o "fogo universal" é identificado como alma e espírito de sua dialética, isto é o logos. E é esse logos que faz o ser humano sair do mundo dos sonhos e levá-los ao mundo da luz, ao conhecimento.

Heráclito (540 a 470a.C) deixou 137 fragmentos em linguagem oracular. E com isto ele dizia que o mundo não foi criado por nenhum Deus, nem por nenhum homem, mas foi e será eternamente um fogo vivo, que se ascende por intervalos e por intervalos se apaga. E a ideia da transformação está presente em toda a sua obra. E devemos entender que Heráclito que dizia que a própria harmonia nascia da contradição e que a luta é a mãe de todas as coisas e de uns ela faz deuses e de outros homens de uns escravos e de outros livres. Neste momento sua pátria estava em pleno domínio dos tiranos, saídos dos seio do pequeno artesanato e dos camponeses que instauraram o Estado Democrático.

Já o filósofo Licurgo(396 a 323a.C) um celebre legislador espartano introduziu a ideia de seu cunho socialista, dividiu a terra da sua pátria em nove mil lotes iguais e inalienáveis, fixou os direitos da Assembleia popular e introduziu a educação comum. E pelo visto temos hoje partidos pregando revolução e a outros que falam até em reforma agrária e urbana. E quando observamos isto na historiografia de centenas de anos antes de Cristo, ficamos nos perguntando sobre os pensares de hoje.

Em Pitágoras (570 a 496a.C) vimos que ele orienta em sua filosofia para que os problemas do povo seja resolvido, e isto é criar uma sociedade alicerçada  nos princípios da fraternidade, igualdade e comunidade de bens. Para os seus adeptos religiosos prescrevia a vida em comum com a prática do silêncio do celibato da abstinência.

Karl Marx (1818 -1883) vai estudar Demócrito e Epicuro que evidenciava o materialismo, e Heráclito que falava em dialética com os logos. E a ideia de Marx é defender o materialismo dialético com o intuito de superar o pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel(1770-1831), o último filósofo clássico alemão do esquema dialético na qual há uma lógica, natural, humano e divino que oscila perpetuamente entre tese, antítese até chegar a síntese mais rica e reconhecida por Ludwig  Andreas Feuerbach (1804-1872), aluno de Hegel reconhecido por sua teologia humanista que prega a religião como forma de alienação que projeta os conceitos do ideal humano em um ser supremo.

Os estudos de Marx alicerçados em Demócrito, Epicuro e Heráclito, criaram um novo caminho que aperfeiçoado, poderia demonstrar novas formulas de encarar a realidade. E para sabermos quem eram esses filósofos vamos ver que Demócrito (460 a 370a.C) era um estudioso da matemática com uma cultura muito semelhante a de Aristóteles, discípulo de Leucipo, que na direção da escola de Abdera e sua filosofia  reside num materialismo mecanicista atomista e é retomada mais tarde por Epicuro e Lucrécio. Demócrito dizia que a natureza é composta de vazios e de átomos, partículas materiais indivisíveis, eternas e invariáveis. E nada nasce do nada. Os corpos nasce da combinação de átomos e desaparecem pela separação dos átomos. E para o seu delírio acreditava que a alma é feita de átomos e o conhecimento sensorial deve s-e a emissão de substâncias muito finas que agem sobre o sentido. Já Epicuro(341 a 270a.C) fundou uma escola no jardim da sua casa em Atenas 306a.C e passava o dia com seus seguidores, e acredita na filosofia como uma condição terapêutica. Na falta da liberdade política, a filosofia grega volta-se a investigação da condição humana, buscando a explicação plausível para a desgraça. Para ele sábio é aquele que busca conquistar a liberdade e independência interior e que a tarefa de filosofar é de mostrar aos homens os meios de ser feliz. Epicuro não tem nenhuma explicação metafísica como um atomista dizia que os atomos são os únicos seres dos quais podemos ter certezas. A teoria do conhecimento faz-se da evidência de um índice de verdade  e fonte única de todo o saber. E constata que os homens são infelizes por terem os deuses e pelo medo do futuro ao detectar a morte como algo inevitável.

Talvez nisto reside, a ideia da religião como ópio do povo, falado por Marx, e diante disto o processo metafísico de Hegel, cuja as ideias encontram-se nas investigações das coisas como algo fieito e fixo, cujo os resíduos embaralham a ideologia social. Até porque Hegel trabalha com o idealismo e não com os valores e as necessidades materiais. Por isto Marx avança no materialismo histórico dialético. Houve a decomposição da escola hegeliana em todas os campos do saber. E assim podemos concluir com uma frase do próprio Marx, os homens fazem sua história, quaisquer que sejam os rumos desta, ao perseguir cada qual seus fins próprios propostos conscientemente; e a resultante destas numerosas vontades, projetadas em diversas direções e de suas múltiplas influências sobre o mundo  exterior e sobretudo e precisamente a História.

Não podemos nunca deixar de entender que a teoria pregava a substituição de Deus pela razão e que toda a explicação científica é de ordem psicoquímica, além de ressaltar que o pensamento é apenas um produto do cérebro. E os seus principais formuladores foram Karl Vogt(1817-18950), Louis Buchner (1824-1890) e Ludwig Feuerbach (1804-1872). E Marx e Engels ao escrever a Sagrada Família em 1845, começaram a questionar as teorias de Feuerbach sobre o materialismo histórico depois de uma série de estudos eles conceberam a ideologia Alemã.



Devemos sempre refletir sobre todos os eventos, e todas as formas objetivas e subjetivas que movem a humanidade assim como a sociedade na qual residimos, vivemos e compartilhamos de seus malefícios e benefícios entendendo que o mundo que pensamos em nossas reflexões não é aquele que está posto pronto e acabado. As minhas reflexões parte de um pressuposto olhar da necessidade humana, na abrangência do pensar coletivo, o que vai em desencontro com a sociedade capitalista, vista por mim como aquela que esta firmemente no processo de exploração de um ser humano sobre o outro. E nisto reside todas as mazelas desta sociedade, que precisamos revolucionar, refutando as desigualdades existentes, os desmandos ocorridos, as violências imprimidas.

Pensar é um ato, um exercício, pra um dia ver florescer uma unica forma de sociedade que estejas em consonância com a dignidade do ser humano e sua futura tarefa de conquistar, transformar na natureza, cujo a lei deva ser a cada segundo suas necessidades, de cada um segundo sua capacidade. E assim temos o pensar socialista de forma coletiva a partir do Poder Popular.


Manoel Messias Pereira

cronista, poeta
Membro da Academia de letras do Brasil - ALB
membro da Associação Rio-pretense de Escritores - ARPE
São José do Rio Preto -SP.




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