Crônica - Felicidade Guerreira - Manoel Messias Pereira


Felicidade Guerreira 

Ao tecer qualquer referência à cultura afro-brasileira, não podemos esquecer da presença da musica e da dança.


Quando ainda era criança, ouvia comumente essa frase ¨não acredite num Deus, que não dançe". Nos cultos afros. todos os rituais são acompanhados de batuques e expressões corporais e os mais velhos , afirmam que a energia do corpo irradia como algo sagrado, é a sabedoria original, o patrimônio espiritual para o trato das coisas da vida. 
Os atos como o nascimento, o batismo, a puberdade, o casamento, a morte, assim como os atos de semeadura, da colheita, a doença, a pesca, as invocações nas estiagem, os ex-conjuros dos espíritos têm a presença de rituais, com musicas e danças fundamentalmente. 



 Nos cultos afros, as estrelas. o sol, os planetas, os satélites naturais, as sombras, o quente o frio, os vegetais, os minerais possuem tais forças ocultas. A Sagrada Tradição dos Orixás, são tidas como forças divinas que revelam ensinamentos para conhecermos e controlarmos as potencias naturais como o vento, o raio, o fogo, a água salgada, a chuva, ar e a temperatura, obviamente com os nossos trabalhos para a sobrevivência. Cada orixá tem sua pedra fundamental, suas cores, danças e daí o espetáculo ritualístico até mesmo usados por alguns artistas brasileiros em seus shows. 


 Geralmente, as festas dos negros tem um misto de lendas, religiosidade e muita espiritualidade. E a exemplo disto podemos lembrar da comemoração de 25 de janeiro, quando em Salvador comemora " Revolta Malê". Temos uma manifestação que mistura cristianismo com islamismo.Embora saibamos que o islã, não constitui uma força hegemônica, mais representa um concorrente de peso, num ambiente cultural, que também inclui os orixás, o vodum dos povos jejes, o espiritualismo dos angolanos que trouxeram o omoloco. E é neste caldo de cultura que encontramos, os Filhos de Gandhi, vestidos de branco, nas sextas feiras, um costume que os umbandistas e do candomblés, chamam de "achofifun", alem do mais os fillhos de Gandhi, fazem o "Rito-Baru", que para os umbandistas são as guardas do caminho, comum nas saidas dos desfiles, e também no carnaval, e isto tudo vejo como rituais harmoniosos. 


 Um outro ponto interessante é que o " Levante Malê", traz uma citação do Alcorão (3:108) "Alá não quer injustiça contra as suas criaturas", na própria historia do Brasil contam que os rebeldes foram as ruas com roupas dos adeptos do islâ. E os que morreram traziam no corpo amuletos e rezas além da passagem do Alcorão. Desejavam os negros o fim da escravidão em 1835 e a tomada do poder derrubando a monarquia. 


 Quando os poetas como Gilberto Gil, diz "que a felicidade do negro é a felicidade guerreira" e Oswald de Andrade diz "que o carnaval é a maior festa religiosa" creio que que o homem dança e canta suas lutas, seus amores, e a sua espiritualidade e daí, Deus tem de mostrar a sua ginga. E a Igreja Católica, passou a entender isto, e o culto engessado, sem danças praticamente esta sendo extinto. E por meio de um ecumenismo e uma possível comunicação, graças a Pastoral do Negro e a presença do sacerdote negros. 

Só assim é possível ter a compreensão "de que Deus está no meio de nós", do contrario, Deus estaria abandonando seus filhos, que estariam cantando, dançando, rezando e o Criador, alheio a isto tudo. 




Manoel Messias Pereira

cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil



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